Entenda a relação entre o mercado da arquitetura hospitalar e a utilização de vidros
A utilização do vidro na arquitetura hospitalar tem sido tendência na atualidade graças a versatilidade do material que pode receber diversos beneficiamentos voltados para as necessidades esperadas.
Neste post, entrevistamos o arquiteto Erick Vicente para entender melhor esse universo do vidro e arquitetura hospitalar. Acompanhe!
EV: Projetar edifícios de saúde é tarefa difícil, pois o arquiteto deve ter conhecimento de assuntos muito diversos como: procedimentos clínicos e administrativos, segurança física e biológica dos ambientes; organização dos diferentes setores do edifício de modo a facilitar os fluxos e os procedimentos; previsão de flexibilidade físico-funcional para futuras mudanças e atualizações; entre muitas outras questões. Tudo isso sem abrir mãos de projetar espaços fisicamente confortáveis e psicologicamente agradáveis.
No Brasil, ainda encontramos certas dificuldades em relação à qualidade arquitetônica dos ambientes de saúde. De um lado, existem poucos profissionais com experiência e formação adequada; de outro, poucos são os empreendedores que conhecem a importância de contratar um arquiteto para desenvolver um projeto que cumpra com todos os requisitos para a construção de uma boa instituição assistencial de saúde.
Resumindo, o mercado apresenta grandes oportunidades, mas também uma série de desafios que devemos enfrentar e superar na busca de edifícios de saúde mais eficientes, seguros e confortáveis.
EV – O vidro é um importante elemento nos projetos de edifícios hospitalares, usados tanto em fechamentos internos quanto externos.
Nos fechamentos externos o vidro tem a funções de mediar as relações entre ambientes. Nos fechamentos internos, o vidro é amplamente utilizado, principalmente como visores em quase todos os ambientes hospitalares.
Muitos dos procedimentos exigem constante contato visual, possibilitando que o paciente seja observado de vários ângulos pelas equipes médicas. Porém, as vezes é necessário impedir a visão para dentro dos boxes, seja por causa de algum procedimento, seja para dar privacidade ao paciente. Nesta situação, podem ser adotados o vidro duplo com persianas embutidas (desde que o conjunto esteja hermeticamente vedado) ou o vidro inteligente, que se alternam entre a transparência e a opacidade com pequenas cargas elétricas.
Outro exemplo é a utilização do vidro plumbífero, que protegem os médicos e técnicos contra radiações ionizantes, permitindo a realização de exames radiológicos com total segurança.
EV – No Brasil respeitamos, principalmente, a NBR 7199 de 2016, redigida pela ABNT, que trata da utilização de vidros na construção civil.
EV – Existem inúmeros estudos dedicados a entender o conforto acústico, luminoso e higrotérmico no ambiente hospitalar. Não existe um índice oficial, ou mesmo indicadores que sirvam de padrão para todos os projetos de instituições de saúde, mesmo porque as diferentes regiões do Brasil exigem entendimentos diferentes dessa questão.
Ressalto duas publicações sobre esse tema: o livro organizado por Marta Adriana Bustos Romero, intitulado Tecnologia e Sustentabilidade para a humanização dos edifícios de saúde, e o livro Arquitetura e engenharia hospitalar, organizado por Fabio Bitencourt e Elza Costera. Ambas publicações trazem artigos que buscam entender quais fatores os arquitetos devem considerar na hora de projetarem espaços confortáveis para todos os usuários.
EV – O vidro deve ser higienizado de acordo com a rotina que o tipo de área requer. Cada área do hospital requer um tipo de higienização, desde uma limpeza simples até desinfecção total. O vidro, por ter a superfície plana e lisa, se torna um material adequado para aplicação em quase todos os ambientes, pela sua fácil assepsia.
Hoje existem opções ainda pouco exploradas no mercado brasileiro, como o vidro antibactéria. De acordo com os fabricantes, esse tipo de vidro permite a eliminação de 99,9% das bactérias, aumentando a segurança biológica dos ambientes.
EV – Os rumos são sempre incertos. Vivemos em um país instável e que insiste em não se unir para progredir. Porém, o Brasil costuma superar suas adversidades e criar alternativas para suas crises, e não será diferente com o setor de projetos para edifícios de saúde.
Acho que temos muito o que construir. Muito o que aprender e melhorar. Inclusive criando novos tipos e aplicações de vidro. Se assim fizermos, sempre nos aprimorando técnica e cientificamente, os rumos sempre serão bons, mesmo diante das adversidades!
Erick Vicente é Arquiteto Urbanista, formado em 2008. Trabalhou com vários arquitetos, entre eles Jarbas Karman e Lauro Miquelin. Fundou o estúdio de Arquitetura mutável em 2009, onde desenvolve projetos de arquitetura, urbanismo e design. Atualmente é pesquisador no IPH – Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman.